Seja Bem Vindo!

Seja Bem Vindo! -Et pro Bono pacis, Deus vobiscum! -

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PAUL TILLICH - O APÓSTOLO DOS INTELECTUAIS






Para muitos, Tillich foi o maior teólogo protestante do século XX. Esta avaliação aparece bastante principalmente entre os teólogos católicos. O interessante é que Tillich só foi ganhar destaque no mundo teológico depois de sua chegada nos EUA, e nesta época ela já tinha quase 50 anos! Ele buscou criar uma teologia que ficasse no meio termo entre o liberalismo e a teologia dialética de Barth e Brunner. Ele nasceu na Alemanha, e era filho de um pastor luterano, seu pai mudou várias vezes de lugar, o que permitiu que Tillich tomasse contato com vários lugares da Alemanha.[1] Há quem considere Tillich como um teólogo "neo-liberal", pois ao mesmo tempo que teceu críticas ao liberalismo do Século XIX, ele também preserva muito da teologia liberal do Século XIX. Em razão da sofisticação do seu pensamento e sua preocupação em tornar o cristianismo aceitável para o meio acadêmico, também pode ser chamado de "apóstolo dos intelectuais", uma espécie de Justino Martir do século XX. A sua influência foi tão grande como a de Barth, e existem em todo mundo, inclusive no Brasil, grupos de estudos direcionados para pesquisa de sua teologia.[2]



O interesse de Tillich por Filosofia e Teologia nasceu desde a infância, pelo menos desde os 8 anos.[3] Em 1900, juntamente com sua família, Tillich chega a Berlim, a capital alemã. Tillich sempre se dedicará a seus estudos, e terá formação filosófica em Tubingen, e teológica na pietista Halle. Tanto em seus estudos filosóficos como teológicos, ele receberá uma grande influência do filósofo Schelling, e a partir desta influência, ele buscar criar uma filosofia cristã. Em seus estudos de teologia recebe também uma forte influência do teólogo católico Martin Kahler (1835-1912) que ensinava que temos nos evangelhos o Cristo da fé, e não mais o Cristo histórico.[4]



Já formado, Tillich trabalha inicialmente como conselheiro pastoral no período de 1912 até o início da primeira guerra. E será quando trabalhará como capelão na primeira guerra, que ele experimentará uma guinada em sua vida espiritual e teológica. A guerra o levou a ter contato com os pobres e miseráveis, o que o impressionou bastante, e também o levou a uma grande decepção com o Estado que ele tanto admirava. Tillich descreve que em 1915 durante a batalha de Champagne, ele andava entre mortos e moribundo, aquilo o tocou profundamente, e sentiu que a filosofia idealista e os princípios da burguesia alemã não davam as respostas suficientes para as angústias humanas. Tillich chegou a ter que enterrar com as suas próprias mãos muitos soldados, e em razão desta experiência chegou a duvidar da fé e ter dois colapsos nervosos. Para Tillich, a partir daquele momento, o "conceito tradicional de Deus estava morto", era preciso buscar um novo conceito mais contemporâneo para definir Deus. O Deus do liberalismo e do teísmo não eram mais suficientes.[5]



Voltando a Alemanha, Tillich assiste um país em convulsão social, com muita pobreza e greves por todo lado. Então ele buscar fundar um movimento conhecido como socialismo religioso, que tenta demonstrar que a sociedade precisa de fundamento religioso, ou se não, experimentaremos o caos total. É neste período que surge conceitos que marcarão o pensamento de Tillich, e que trataremos no decorrer deste capítulo, conceitos como: correlação, princípio protestante, sola lides da fé, kairós entre outros. Em 1925 ele começa a trabalhar na sua Teologia Sistemática, inicialmente influenciado pela teologia dialética de Barth, posteriormente porém, Tillich irá discordar bastante do pensamento de Barth.[6]



A brilhante carreira de Tillich como professor universitário começou em 1919. Na Alemanha ele irá lecionar em Berlim, Marburg, Dresden, Leipzig e Frankfurt. A sua carreira universitária sofrerá um duro golpe quando ele se posiciona contra o então nascente nazismo. Tillich será o primeiro professor universitário não judeu a ser afastado de sua cátedra. Em 1933, Reinhold Neibuhr está na Alemanha, e convida Tillich para ir para os Estados Unidos, e fugir da perseguição nazista. Chegando aos Estados Unidos, começa o seu período mais produtivo. Chegando aos EUA, Tillich irá lecionar no Union Theological Seminary de Nova Yorque. Ele elogiará bastante o ambiente acadêmico do Seminário, principalmente por ser frequentado por pessoas de vários países. Neste período ele também descobre a psicologia, que irá também influencia seu pensar teológico. Tillich busca usar arte, cultura, política, ação social para fazer teologia. No fundo o seu grande objetivo é tornar a mensagem cristã aceitável para o ambiente acadêmico em que ele vive. Com o passar dos anos cresce o número de pessoas que se matriculam em seus cursos, e também os seus seguidores. Em 1955 ele consegue lecionar em Harward, nas mais cobiçada cátedra de teologia dos EUA.[7]



Entre 1919 e 1933, ou seja, do início de sua carreira como professor universitário até a mudança para os EUA, Tillich trabalhou bastante com questões sociais e políticas, sendo um dos fundadores de um movimento chamado de “Socialismo Religioso”, o que poderia ser definido como uma síntese de socialismo e religião. O seu escrito mais marcante foi a “Decisão Socialista” que foi aprendido pela Gestapo e queimado em praça pública. Tillich sempre irá discutir questões políticas e sociais, porém não com tanta ênfase como neste período.[8]



A produção literária de Tillich é vastíssima, são cerca de 400 obras! O seu período americano foi o mais produtivo e influente. Entre as suas importantes obras podemos destacar: A Era Protestante (1948); O Abalo das Estruturas (1948); Coragem de Ser (1952); Amor, Poder e Justiça (1954); Novo Ser (1955); e claro, a sua monumental Teologia Sistemática lançada em três volumes nos anos de 1951, 1957 e 1963. Após a sua morte ainda foram lançadas mais duas obras importantes: Perspectivas da Teologia Protestante dos Séculos XIX e XX (1967) e História do Pensamento Cristão (1968), na verdade estas obras são transcrições de suas aulas ministradas em Nova York sobre os referidos temas.[9]



Em 1936, ocasião dos seus cinquenta anos, Tillich escreveu uma autobiografia chamada “Na Fronteira”, onde ele aborda as vantagens de ter tido uma carreira teológica na Alemanha e depois nos EUA. Ele dizia que era ótimo estar na fronteira entre a terra natal e a terra estrangeira, com isso a visão do mundo crescia e se aprofundava. Assim não ficava-se preso a preconceitos ou provincianismos. Para Tillich “a fronteira é o melhor lugar para adquirir conhecimento”.[10]



A influência de Tillich no meio acadêmico americano foi enorme. Em 1940 ele já recebia o título de cidadão americano, logo em seguida receberia o título de doutor honoris causa na Universidade de Yale. Nesta época diziam que ele era "um filósofo entre os teólogos e um teólogo entre os filósofos". Em Harward ele recebeu o direito de livre docência, com isso ele podia lecionar a matéria que quisesse e quando quisesse, tendo bastante tempo disponível para pesquisar e escrever. Em todo este período nasceu uma verdadeiro culto a figura de Tillich, com alunos esperando horas para assistir suas conferências, mas havia quem dissesse que estas palestras não passavam de "balela ininteligível". Em 1961 ele assistira de camarote, graças a um convite especial, a posse do presidente Kennedy. Sem dúvidas Tillich foi uma lenda no seu próprio tempo, mas sua biografia também traz muitas polêmicas e ambiguidades: o medo da morte sempre o perseguiu, apesar de sua fé cristã; era também conhecido por sua vida boêmia, o que levou ao fim o seu primeiro casamento; foi um defensor do socialismo, mas nunca abriu mão dos benefício de fazer parte de uma classe média alta; o seu pouco interesse por estar presente em atividades de sua igreja, na verdade ele raramente ia a igreja.[11]



Os postulados da teologia de Tillich

Olson & Grentz resumem da seguinte forma os principais postulados da teologia tillichiana[12]:



1) A teologia deve ser apologética, falar a atual situação cultural, e não ser simplesmente atirada como uma pedra sobre a cabeça das pessoas como fazem os fundamentalistas e mesmo o neo-ortodoxos como Barth;



2) Há um denominador comum entre Deus e os homens, pois se assim não fosse, toda teologia seria obsoleta, e este denominador comum pode ser observado nas manifestações da cultura humana;



3) A filosofia tem papel essencial no pensamento teológico, pois como dizia Tillich "Nenhum teólogo deve ser levado a sério como teólogo, mesmo que seja um grande cristão e um grande estudioso, se sua obra mostrar que ele não leva a sério a filosofia". Tillich só destaca que a Filosofia trata as questões de forma um tanto quanto fria e objetiva, já a teologia busca a verdade com paixão, temor e amor;



4) O melhor sistema filosófico para ser usado pela teologia deve ser a ontologia existencialista, pois a ontologia busca estudar o ser, e o existencialismo trabalha com as angústias humanas. Expressões da ontologia são usadas em abundância por Tillich. Ele fala de Deus como o "ser-em-si", fala também que o "não-ser" é a ansiedade que acompanha todo ser finito, e que o homem busca resposta para a possibilidade do "não-ser", e isso leva o homem ao poder-de-ser que é Deus.



5) A natureza especial e complexa da existência humana. Tillich gostava de ser referir ao ser humano como um "microcosmo"

---


[1] MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. p. 87

[2] GRENTZ, Stanley & OLSON, Roger. A Teologia do Século 20. p. 135-36

[3] Ibid.. p. 137

[4] MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. p. 88

[5] Ibid. p. 89; GRENTZ, Stanley & OLSON, Roger. A Teologia do Século 20. p. 137

[6] MONDIN, Batista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. p. 90

[7] Ibid. p. 91-92

[8] GIBELLINI, Rosino. Teologia do Século XX. p. 84

[9] MONDIN, Batista. op. cit. p. 92-95

[10] GIBELLINI, Rosino. Teologia do Século XX. p. 85

[11] GRENTZ, Stanley & OLSON, Roger. A Teologia do Século 20. p. 138-39

[12] Ibid. p. 139-41

sábado, 17 de julho de 2010

Teologia e Cultura - A Ortopraxia!

Ian Hamilton, ministro na Londoun Church em Newmilns, Escócia, foi um dos palestrantes do 6º Simpósio sobre “Os Puritanos” (06/1997), e lá afirmou: “Tradição reformada é corporativa”! Ele trata sobre esse “corporativismo” quando cita Calvino, onde afirma-se que devemos lidar de forma mais saudável com as diferenças no culto reformado. Importante ressaltar que o culto reformado expressa seu pensamento teológico obtido e defendido de forma prática. Pelo menos, é o que deveria ser!
Sendo assim, foi segundo a tradição reformada e pregada por Calvino, em sua obra, “As Institutas” (livro 1), que entendemos que toda arte é tida por expressão de adoração a Deus. Isso é o que relata as Escrituras, o cerne do pensamento reformado, em Gênesis 1. 26: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...”.
A arte é a demonstração daquilo que Deus concede ao homem na criação. Trata-se do poder criativo concedido à humanidade. É o que conhecemos como sendo os Atributos Comunicáveis de Deus. A criatividade expressada em artes. E a arte é sempre uma das características que ressaltam nos moldes culturais. Seja na dança, nas festas, em quadros, nas artes plásticas, sempre que observamos uma arte criamos uma ligação à cultura. A cultura, portanto, é o resultado da Graça de Deus. Ainda que sendo parte de uma Graça comum, trata-se de um favor imerecido. Graça porque Deus permite que todos possam nascer com um senso divino dentro de si. Cada criatura exercendo objetivos primários de Sua criação. Cada cultura ressaltando o próprio Deus e Deus fazendo parte da história do homem em sua formação cultural. Contudo, essa característica cultural foi distorcida pelo pecado. Mas, mesmo assim, existente uma comunicação! A realidade de que Deus está envolvido com o ser criado é algo observado de forma real e presente. É a Sua Imanência refletindo seu imenso amor.
Sendo assim, “Tradição reformada é corporativa”! Cada cultura pode e deve desenvolver um método litúrgico expressando a realidade do ser criado. Com reflexão, reverência e objetivo. Deus seja glorificado com o que nos foi concedido por Ele mesmo! Bruno Sathler