Seja Bem Vindo!

Seja Bem Vindo! -Et pro Bono pacis, Deus vobiscum! -

terça-feira, 5 de março de 2013

A Menina e o Pássaro


“Era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias, o que a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: ‘Tenho que ir.’ A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. ‘Menina’, disse-lhe o pássaro, ‘aprenda o que vou lhe ensinar: eu só sou encantado por causa da ausência. É na ausência que a saudade vive. E a saudade é um perfume que torna encantados a todos os que o sentem. Quem tem saudades está amando. Tenho que partir para que a saudade exista e para que eu continue a amá-la e você continue a me amar...’ E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo:  ‘Agora ele será meu pra sempre.’ Mas não foi o que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe.” (Rubem Alves)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Boneco Sorridente




Gostaria de refletir sobre essa “função” de Candidato ao Sagrado Ministério. As dificuldades de um Candidato ao Sagrado Ministério. Eu poderia passar páginas e páginas contando minha longa e dolorosa jornada. Foram muitos caminhos tomados, muitas atitudes mal tomadas, escolhas mal feitas e, também, mal orientadas. O caminho com certeza é longo e doloroso. Afeta a vida de tal forma que alcança a saúde. Quase fiquei tetraplégico com uma inflamação na medula e quase me matei quando passei por depressão. Quando olhamos o passado e vemos o que vivemos, deveríamos nos entusiasmar, pois a jornada tomou um rumo importante e decisivo. E é sobre esse momento que eu gostaria de falar.
Quando um jovem vai para uma faculdade, ele passa por dificuldades árduas. Se for um estudante que estuda fora da cidade natal, fazendo com que o aluno perca o amparo doméstico familiar, onde existe comida, cama e roupa lavada, o aluno termina a faculdade e, sendo assim, tem mais do que se orgulhar. Concluiu o curso e agora, lembrando-se das dificuldades passadas, encontra motivação para vivenciar a carreira almejada. Ele possui um diploma que o capacita. Portanto, acrescentará em seu currículo a sua graduação e, portanto, dependeria apenas dele.
Na caminhada do Candidato ao Sagrado Ministério não é bem assim. Dentro dos esquemas legais da instituição, na qual ele, o candidato, está inserido, ele passa por todos os dilemas do estudante. Contudo, quando chega ao momento após a sua conclusão, ele não depende de seu diploma. Ele não depende de si mesmo. Ele depende de um tutor. Ele depende de uma pessoa que seria o vínculo de mediação entre o Candidato e o Concílio. Contudo, dentro destes aspectos de mediação, o papel exercido pelo candidato durante toda a sua trajetória nada vale. O que vale realmente é o que ele se tornou com isso. Caso o Candidato não corresponda aos parâmetros da Instituição, toda a sua carreira, sua jornada, suas dificuldades passadas, todos os seus desafios superados, tudo aquilo que até determinado momento se teve como vitória, não vale de nada. E agora?
Pois bem. Fui um camarada muito gente boa. Sem demagogia. Apenas queria ser um bom Candidato aderindo vontades e pensamentos daqueles que se diziam meus representantes. Não havia política porque, creio que a política seja a correspondência de posturas e pensamentos norteados por princípios. Quantas vezes me neguei, a mim mesmo, apenas para ser o que queriam de mim. Esforcei-me e fui aprendendo. Quantas vezes, depois de já haverem me distorcido diante das vontades pessoais, haviam falado para que eu fosse mais eu. Queriam que o Candidato demonstrasse o que pensa porque isso é importante. É o processo de amadurecimento, do caráter, daquele que cuidaria de pessoas.

A conclusão que cheguei foi a conclusão que eu jamais desejaria chegar. Eles não estavam interessados no Candidato. Ou numa pessoa que almejasse cuidar de pessoas. Eles estavam interessados em si mesmos e desejosos que esse “eu” do candidato fosse o reflexo daquilo que todos somos obrigados a ser. Todos somos bonecos sentados no colo do Ventríloquo. Ventríloquo esse, que vive a tentar, e as vezes convence, parecer que o boneco possui vida. Esse Ventríloquo é quem move o boneco como quer. Nós, os bonecos, somos apenas os que reproduzem representativamente aquilo que o Ventríloquo diz sobre a verdade, liberdade e amor. Tristemente entendemos que se trata de um Ventríloquo que não sabe o que é a verdade, não entende o que é a liberdade e não sabe amar. Portanto faz dos bonecos seres aparentemente lindos, mas na realidade, assombrosamente assustadores.
Terminamos uma etapa que não significa nada no currículo porque se trata de um mundo que deseja que sejamos apenas uma coisa. Que deseja que não sejamos (ser) alguma coisa na vida. Apenas um Boneco Sorridente no colo de um Ventríloquo.